Limoeiro
Cuidar de limoeiro é arte.
O limoeiro é turrão.
Vigora-se por pedregulhos;
Claudica-se pelo chão.
Se recebe muita água, torna-se pomposo;
E, de teimosia, retarda os frutos.
Se não recebe água, sufoca-se em cochonilhas.
E por desnutrição, também retarda os frutos.
Um limoeiro é fiel em seu compromisso de dar frutos.
O limoeiro é independente.
Gosta de crescer livremente, sem podas.
Só aceita corte dos galhos cruzados.
Tolera a poda de galhos indesejáveis.
Lidar com o limoeiro é como conviver com gente teimosa:
Ou você o deixa de lado ou enfrenta-o em toda a sua teimosia.
Se o deixar de lado, um dia dará frutos, no tempo dele.
Nunca dará frutos no tempo de expectativa dos outros.
O limoeiro é fiel em seu compromisso de dar frutos.
Se decidir enfrentá-lo, terá de fazer isto com competência.
Ele gosta de ceifa, para abrir-lhe as seivas:
O medo de morrer sem reproduzir-se o faz apressar-se em dar frutos.
Se a ceifa for muito forte, ele se machuca; magoa-se, retrai-se;
E, novamente, retarda os frutos.
Um limoeiro é sempre fiel em seu compromisso de dar frutos.
O limoeiro é forte.
Sobrevive-se em jardins desmazelados;
Vinga-se em quintais dos pobres e miseráveis;
Suporta o zelo demasiado das madames;
Contudo, mantém-se fiel em seu compromisso de dar frutos.
O limoeiro é intrigante.
Espeta-nos com tenacidade;
Dá-nos sumo calmante.
Nasce de sementes jogadas ao acaso;
Vinga-se também por plantio planejado.
No meu quintal tem um limoeiro.
Não sei se nascido ao acaso;
Não sei se de plantio planejado.
Só sei que nos confundimos no viver:
Temos essência de perfumes e licores
Escondidos entre espinhos e sumo amargo.
(Léssio, 29/08/2010).